No último domingo, dia 30 de abril, foi televisionado no programa Fantástico, da TV Globo, uma reportagem sobre o aplicativo de comunicação Discord. Lançado em 2015, surgiu como uma alternativa ao Skype, para a comunidade gamer ter a possibilidade de se comunicar por chat de voz enquanto joga. Contudo, oito anos depois, a discussão sobre o aplicativo tomou um rumo complexo. Ao longo da matéria, um lado sombrio foi revelado; muitos jovens estão usando aplicativos para a prática de cyberbullying, doxxing (assédio à vítima por meio do compartilhamento de dados pessoais), apologia ao nazismo e demais discursos de ódio. Mas como esses tipos de comunidades se proliferaram, se o objetivo da plataforma sempre foi outro tipo de relação entre usuários?
O Discord trouxe para a mesa a possibilidade de criar seu próprio servidor, um grupo privado no qual os membros podem criar salas de bate-papo de diferentes formas: por texto, imagem, voz e vídeo. Rapidamente, tornou-se muito mais que uma ferramenta promissora, e sim uma das redes sociais mais populares entre jovens, justamente pela facilidade de acesso e também pela alta capacidade de personalização deste espaço virtual. Nela, foram criados dois tipos de lógica de agrupamentos. O primeiro é baseado no círculo de amizades, como um grupo de WhatsApp, no qual os jovens têm sua vivência mais diária, compartilhando memes, jogando jogos entre si ou até assistindo a filmes e séries em conjunto, já que o Discord permite o compartilhamento de tela.
A segunda lógica de agrupamento tem mais relação com interesses, com servidores temáticos para interesses diversos, baseados em comunidades já estabelecidas: grupos de pessoas interessadas em algum anime ou um jogo em específico, como Valorant, Counter-Strike, Fortnite e afins. Neste momento, temos que ter bastante cuidado. Por serem grupos públicos, podendo chegar a milhares de membros, é difícil para as Moderações tomarem conta de todas as interações entre membros. Diferente do Facebook ou Twitter, o Discord demorou a ter ferramentas de Moderação Automática, que chegaram como uma opção e não como uma regra.
Os grupos públicos podem ser perigosos por terem adultos e adolescentes no mesmo espaço virtual. Sem moderação apropriada, desconhecimento dos pais e sem que os adolescentes saibam se proteger, o Discord torna-se um ambiente perigoso. O perigo é de que sejam atraídos a terem interações fora destes grupos públicos e com mais controle, para grupos menores, com um círculo de pessoas restrito e sem vigilância alguma.
A matéria do Fantástico cita muitos exemplos de adolescentes que foram ameaçados por adultos maliciosos a cometerem atos muito graves, sob a pena de ter informações pessoais e íntimas expostas. Em outros casos, os jovens são induzidos a fazer estes atos para serem aceitos no grupo. O comportamento de reproduzir os pares no convívio social é típico da adolescência, período no qual eles estão formando as suas próprias identidades. É uma questão complexa, que deve ser abordada com muito cuidado, porque, na verdade, o problema não está necessariamente na rede social.
Desde que nos acostumamos à internet como espaço público, as redes sociais tornaram-se uma constante em nossas vidas. Do Orkut, entre 2004 a 2010, até o Facebook, Instagram e Twitter. Nenhuma destas redes é completamente segura e, em todas, estamos sujeitos a questões de segurança. Dos golpes que podemos cair, compartilhamento de notícias falsas e também os grupos problemáticos a que nossos filhos são expostos, tudo pode ser mediado com prevenção, informação e procedimentos de segurança.
É fundamental também não antagonizar ferramentas, antes que saibamos exatamente com usá-las de forma segura. O Discord, por exemplo, é utilizado por diversos times em empresas, disciplinas de faculdade e também por grupos de amigos que não possuem intenção alguma em atividades maliciosas. Por ser um aplicativo rápido, fácil, escalável e altamente adaptável, tem diversas aplicações eficientes e que facilitam a vida dos usuários. Portanto, o que devemos fazer é ter responsabilidade e adotarmos alguns procedimentos para deixar nossos filhos mais seguros.
Como bloquear conteúdo impróprio
Primeiro de tudo, ativar o bloqueio de conteúdo sensível. No Discord, abra o menu Configurações, clicando no ícone de engrenagem no canto inferior esquerdo, ao lado do seu nome de usuário e avatar.
Depois, selecione a guia “Privacidade e segurança”, no lado esquerdo da janela. Em seguida, em “Safe Direct Messaging”, marque a caixa “Keep Me Safe”. A ativação desse recurso garantirá que todo o conteúdo seja verificado e filtrado, se for identificado como explícito ou impróprio.
Como bloquear comunicação indesejada
Na mesma guia “Privacidade e segurança” (Configurações> Privacidade e segurança), role para baixo até “Padrões de privacidade do servidor”. Desative essa configuração se quiser evitar que as pessoas em um servidor enviem mensagens diretas para você ou seu filho. Você ainda pode se comunicar publicamente em salas de chat de texto e voz no servidor.
Um prompt aparecerá, perguntando se você deseja também bloquear DMs de pessoas em um servidor existente. Escolha “Sim” ou “Não”, dependendo de sua preferência.
Permanecendo na guia “Privacidade e segurança”, role para baixo até “Quem pode adicionar você como amigo”. Desmarque todas as opções para evitar que alguém lhe envie mensagens facilmente, ao mesmo tempo que permite que você converse em canais públicos.
Como ativar a autenticação de dois fatores no Discord
Como medida final para os pais, você pode regular melhor o uso do Discord, ativando a autenticação de dois fatores (2FA). Isso exigirá que você vincule sua conta Discord a um smartphone e impedirá que qualquer pessoa faça login sem um código gerado espontaneamente.
Além disso, existem duas medidas positivas que não necessitam se dar no ambiente on-line de combater a exposição dos adolescentes a esses conteúdos inapropriados e agressivos. Proporcionar atividades físicas, artísticas ou de expressão, beneficiam a saúde mental desses adolescentes. Também é importante criar um espaço de diálogo com estes jovens, sem ir para uma lógica punitiva, mas sim um debate, para que eles possam refletir e estejam preparados para não compactuar com esses grupos destrutivos