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A Escuta no Processo de Diálogo

“Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar… Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória.” É assim que o psicanalista e educador Rubem Alves inicia seu texto “Escutatória”, que faz parte do livro O amor que acende a lua, publicado em 1999. Será que ele teria alunos nesse curso?

Segundo o dicionário Michaelis, diálogo quer dizer “conversação entre duas ou mais pessoas.” Ou: “Troca de ideias, opiniões etc., que tem por finalidade a solução de problemas comuns; comunicação.” Logo, para que haja diálogo (e entendimento), é preciso que alguém fale enquanto o outro escuta, numa dança bem ensaiada em que os movimentos de som e silêncio não sejam abafados por nada, muito menos por alguém. Ninguém marca ponto se acontecer só um.

O caso é que ouvir o outro não é simples, ainda mais em um mundo acelerado, em que aumentamos a velocidade de reprodução de mensagens de áudio e pulamos a abertura dos programas na TV. A gente já quer falar, dar opinião também e perde a chance de “só” ouvir. Quem fala não se sente ouvido, quem deveria ouvir, nem escutou, tampouco entendeu. É a tempestade perfeita.

Não há educação sem escuta e só se educa a partir de relações. De nada adiantam laboratórios e tecnologias sem ouvir: os gestos, as palavras, o que se disse e o que se quis dizer. E, sem que sejamos também ouvidos, não há diálogo real.

 A escuta ativa é uma habilidade que torna o diálogo mais eficiente. Por meio dela, os participantes demonstram interesse na fala um do outro e geram um vínculo que permite que cada um interprete a posição daquele que fala. Ou seja, envolve outras capacidades, como a empatia e a imparcialidade, por exemplo.

A técnica traz benefícios para o ambiente escolar, como a melhora do relacionamento entre os alunos e o corpo docente, a mediação de conflitos, o trabalho em equipe e o enriquecimento da comunicação, fatores importantes para o cenário de transformações como o que vivemos. Os alunos querem (e precisam) se perceber escutados. Verdadeira e holisticamente escutados. Os professores também. As famílias, idem. Sendo assim, a escuta ativa tem mais valor se vai para além dos muros da escola, já que todos esses atores têm muito a acrescentar ao processo.

Num contexto de conflito entre estudantes, como a posição em que um e outro ocupam em uma fila, por exemplo, vale a pena dar a cada envolvido a oportunidade de fazer o relato, sem julgamentos. O fato de um falar, o outro escutar e o mediador (que é o adulto responsável) dar suporte já é, em si, um exercício de cultura de paz. Não é raro, quando isso acontece, de os próprios alunos conseguirem resolver a situação de maneira compassiva.

O “saber ouvir” é essencial no dia a dia escolar e não pode se perder no meio das tarefas, da rotina ou do barulho. Precisamos dedicar tempo para ouvir, refletir e cultivar relações afetivas. Num passado recente, muitos educadores se preocupavam com a transmissão do conhecimento, mas o pulo do gato, hoje, sobretudo num mundo pós-pandemia, está em fortalecer questões socioemocionais, promover interações e facilitar a aproximação da comunidade. Isso traz acolhimento e pertencimento.

por

Andressa Scalco

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